"Apontamentos Íntimos
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Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore e até flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
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Sê plural como o universo!"
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in Obra Poética de Fernando Pessoa

4 comentários:

    Adoooro Fernando Pessoa! E o meu heterónimo de eleição é Álvaro de Campos. :)
    De momento até estou a ler «Quando fui outro», onde o romancista brasileiro, Luiz Ruffato, reuniu poemas, fragmentos do "Livro do Desassossego", ensaios e cartas de Fernando Pessoa e os seus heterónimos.
    Está um livro muito bem composto que ilustra maravilhosamente o quanto a obra de Fernando Pessoa é brilhante e tão vasta.

    «Toda a constituição do meu espírito é feita de hesitação e de dúvida. Nada é ou pode ser positivo para mim; todas as coisas oscilam em meu redor, e eu com incoerência e mudança. Tudo é mistério e tudo é significado. Todas as coisas são «desconhecidos», simbólicos do Desconhecido. O resultado é horror, mistério, um medo demasiado inteligente.»
    Fernando Pessoa

     

    Adoroooooooo Fernando pessoa, em qualquer dos seus heterônimos. bjks ;)

     

    Amiga Paula
    A poesia de Fernando Pessoa não pertence a este mundo. E nela existem poemas, que ao serem declamados, transportam quem os declama ao paraíso da representação.
    São disso exemplo « o menino de sua mãe», e «o mostrengo».
    Fernando Pessoa é daqueles homens que deveria viver eternamente, para que, em momentos de maior negrume, o seu génio fosse uma luz que alumiasse o nosso caminho.
    Com amizade.

     
    On 16 agosto, 2010 Paula disse...

    Tonsdeazul, Samantha e Poeta do Penedo,
    Fernando Pessoa é único e acho que nisto todos nós concordamos :)
    Tenho um livro de bolso da Europa América que se intitula "Obra Poetica de Fernando Pessoa - Texto Integral - Poemas de Alberto Caeiro" Neste livrinho estão incluidos para além de poemas e pensamentos´; duas cartas ao poeta e crítico Adolfo Casais Monteiro sobre a Genese dos Heterónimos e outros temas. São bastante interessantes as cartas e por vezes com um toque de "sinismo saudável" que eu desconhecia em Pessoa. Um dia destes colco aqui um excerto das cartas.
    Abraço

    Daiane Santo,
    Vou passar por lá :)

     

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