O homem é um animal irracional

"O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. A única diferença é que os outros são animais irracionais simples, o homem é um animal irracional complexo. É esta a conclusão que nos leva a psicologia científica, no seu estado actual de desenvolvimento. O subconsciente, inconsciente é que dirige e impera, no homem como animal. A consciência, a razão, o raciocínio são meros espelhos. O homem tem apenas um espelho mais polido que os animais que lhe são inferiores.
(...)
O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos.
Eles sabem o que precisam saber. Nós não."

Fernando Pessoa - Reflexões sobre o Homem - Textos de 1926-1928

6 comentários:

    É isso mesmo...*

     

    Este homem era um génio. Dos livros que saíram com o jornal i, ainda só li 3, tenho mais 7 com que me deslumbrar. Não e que concorde com ele em todas as coisas - nomeadamente com esta de ser um animal irracional - mas não deixa de ser inteligente.

     

    A verdade transformada em literatura é sempre bela!
    Beijinhos
    Sandra do blog Vidas Desfolhadas

     

    ... e o trabalho que isto já deu aos filósofos :)
    Basicamente, temos instintos, impulsos que nada devem à razão, emoções, sentimentos. E tudo isto nos torna irracionais. Na verdade, somos animais. Irracionais? Em grande parte, sem dúvida, porque nada disto provém da razão, da inteligência.
    No entanto, não somos apenas irracionais. Digamos que há "outra parte de nós": usamos a razão para dosear estes instintos e emoções. Uns mais que outros, todos procuramos gerir a vida de form a que o irracional não nos traga problemas. E isto é muito difícil!
    Por ser assim tão difícil e porque nem todos os seres humanos conseguem estabelecer esse equilibrio entre os impulsos e a razão, o homem criou algo que conseguisse obrigar toda a gente a por freio à animalidade. Esse algo foi aquilo a que podemos chamar "a terceira parte de nós": aquilo a que Freud chamou o superego - as normas! Foi assim que surgiram a moral, as leis e as regras sociais.
    Então o que é que nos distingue dos animais? Será essa complexidade a que se refere Fernando Pessoa? Sim, porque essa complexidade deve-se em grande parte à complexa teia de imperativos morais a que nos sujeitamos.
    Sentimos impulsos que vêm do inconsciente: instintos, vontades, paixões. E o nosso cérebro tem uma trabalheira imensa para conjugar essas tendências com a enormidade de regras e valores morais que impomos a nós próprios.
    Assim, cada um de nós é o resultado desse equilíbrio mais ou menos precário entre instintos e regras. Nisto Freud tinha razão; o nosso Ego é a zona onde encontramos esse equilíbrio.
    Mas a grande questão que se põe é esta: o que precisamos para sermos felizes? Seguir a nossa animalidade natural? Encaixar "sabiamente" todas as normas, regras, tradições e valores morais? Ou passar a vida toda (como acontece com a maior parte de nós) a lutar por esse equilíbrio, escravizando o nosso cérebro nessa luta?
    É evidente que não tenho resposta para isto. Se tivesse seria filósofo :)
    O homem é sempre escravo. Ou dos impulsos emocionais, ou das regras e da moral ou da razão, da "maldita" (ou sagrada) inteligência, que procura o tal equilibrio.
    À medida que vou acumulando experiência na vida, uma coisa posso garantir: se alguma coisa se parece com felicidade, ela situa-se algures muito próximo do campo das emoções e da tal "animalidade". Cada vez mais me convenço que as imposições morais e legais escravizam e assassinam esse valor que tanto pode contribuir para uma verdadeira realização individual: a liberdade.
    Obviamente, a razão tem de assumir um papel importante na materialização dos impulsos; mas não podemos ir muito longe nessa racionalização. Caso contrário, a nossa vida submete-se totalmente aos tais valores ditos "superiores" da moral, da ética, das regras e toda a nossa conduta será pautada pelo medo de viver, pela inércia, pela acomodação, ou seja, pela infelicidade.

     

    De facto o homem é um animal, tão mamífero como os restantes mamíferos, tão primata como os restantes da sua espécie. Vou dizer uma ENORMIDADE, porque vou discordar do nosso profundo e imortal Fernando Pessoa, mas como sou, também, um ser pensante, tenho da vida as minhas próprias conclusões. O animal homem é racional, na minha tão infíma perspectiva, porque procura incessantemente a razão, o sentido da sua existência. Os irracionais vivem apenas na necessidade instintiva de se manterem vivos e perpetuar a sua espécie. Tal como disse Fernando Pessoa o subconsciente é que nos dirige, porque ele é um enorme depositário de informação e experiências. O subconsciente, o nosso eu superior, é o nosso melhor conselheiro, que muitas vezes, sem nos apercebermos, transmite ao consciente informação que precisamos, que sabíamos, mas não nos lembrávamos.
    Esta a fonte da nossa racionalidade, na minha perspectiva, muito questionável, eu sei.
    Com amizade.

     
    On 11 janeiro, 2010 Paula disse...

    Eu acho que este tema dava para uma boa tertúlia :)

     

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